OPÇÃO VERDE
Reflexão do artista à
guisa de uma auto crítica
Um simples
traço ou mancha colorida pode conter toda fruição de um ato criador mas,
seguramente, a solução final de uma tela, embora pareça, jamais se transporta
satisfatória e plenamente do espírito do artista para o suporte material do
quadro. Pintor e pintura não existem isolados e, separar a obra de seu autor é
impossível. Independentemente da determinação de quem a concebe, a obra acaba
sendo um auto-retrato e a busca da simplicidade _ que é a virtude principal do empenho criador
_ haverá sempre de revelar as marcas pessoais do artista, seja na elaboração ou
no produto final.
Esta
coleção de paisagens, pintadas com a sofreguidão de um artesão de tantas outras
vivências não pretende ser o gesto irrepreensível do conceber e do fazer
artístico, que a minha experiência de sessenta anos no “metier”, até certo
ponto, poderia justificar. Ao contrário, comporto-me como quem sempre recomeça
conscientemente despreocupado com o “obituário da arte”. Posturas, certezas,
constância, atualismo ou qualquer tipo de engajamentos ideológicos _ em moda_ não me parecem mais que meros recursos
semânticos utilizados, com frequência utilizados por alguns ao pretenderem
“explicar” obras de arte. Nada, além da própria linguagem das tintas, será
capaz de definir com a certeza desejável, a verdadeira consciência de uma pintura.
Bom ou ruim, certo ou equivocado, um quadro é apenas o que é. Nenhum argumento
teórico _ por mais brilhante _ haverá de
acrescentar ou retirar algo que o artista já não tenha incorporado ao seu trabalho ou eliminado
dele, ao considera-lo pronto.
Se
a muitos “gostar” (ou “não gostar”) é o suficiente, cabe sempre, entretanto o
exame cauteloso e isento, equilibrado e justo, enquanto somente ao artista é
permitido o privilégio de sentir no simples processo criativo o gozo que lhe
basta. Para este a tela trabalhada não passa de um plano visível, palpável,
concreto na medida em que o verdadeiro conteúdo _ abstrato e intocável _ não se
desliga de sua inquietude interior.
Se
me coube a proposta de produzir pintura da forma que sei e sou capaz, deixo ao
ato contemplativo do público a liberdade para decodificar, segundo seus
próprios critérios ou referências, a mensagem de um pintor voltado para a
manifestação figurativa de suas emoções diante da exuberância verde da
ambiência amazônica.
Benedicto Mello
Junho de 2000